terça-feira, 23 de agosto de 2011

Como os tibetanos conseguem viver em grandes altitudes? - Scientific American Brasil

Matéria da revista Scientific Americam Brasil relacionado ao sangue. Para ler o artigo na página original da revita basta clicar no título

Como os tibetanos conseguem viver em grandes altitudes?
O segredo está no sangue – e em artérias mais largas para transportá-lo
por David Biello
 
 Os moradores do Platô Tibetano sobrevivem e prosperam no topo do mundo, em uma região com altitude média de 4.500m acima do nível do mar. Lá em cima, o ar não é essa sopa rica em oxigênio à qual estamos acostumados em altitudes mais baixas. Na verdade, como muitos alpinistas descobriram para seu desapontamento, é difícil obter esse elemento vital para a vida em quantidades suficientes nos pulmões e no sangue à medida que escalam as montanhas, o que muitas vezes resulta em sintomas debilitantes como náusea e tontura, que podem chegar a ser fatais. De acordo com uma nova pesquisa, os tibetanos evitam essa náusea da altitude porque têm artérias e capilares mais largos para levar o oxigênio aos órgãos e músculos.

“Ao mesmo tempo em que os tibetanos são extremamente hipóxicos em grandes altitudes, consomem a mesma quantidade de oxigênio que nós no nível do mar”, explica a antropóloga Cynthia Beall, da Case Western Reserve University, em Cleveland. “Eles conseguem isso graças a um fluxo muito alto de sangue, transportando o oxigênio até os tecidos duas vezes mais rápido”.

Os tibetanos aumentam o fluxo do sangue produzindo grandes quantidades de óxido nítrico na parte interna dos vasos sanguíneos. O gás se espalha pelo sangue e forma nitritos e nitratos, que fazem com que as artérias e capilares se expandam e transportem o sangue cheio de oxigênio para o restante do corpo mais rapidamente que o normal.

Em um estudo com tibetanos, Beall e seus colegas relataram no “Proceedings of the National Academy of Sciences” que 88 desses homens e mulheres que moram nas alturas possuem um fluxo sanguíneo duas vezes mais rápido que 50 habitantes da cidade de Cleveland, nos Estados Unidos – que moram a apenas 205 m de altitude acima do nível do mar. Além disso, os produtos de óxido nítrico em circulação no sangue dos tibetanos é 10 vezes maior.

Na verdade, os níveis de nitritos e nitratos no sangue dos tibetanos são mais altos que nos pacientes que sofrem de uma infecção bacteriana no sangue – choque séptico –, e o fluxo de sangue é típico de pessoas que sofrem de pressão alta. No entanto, os tibetanos não sofrem com isso. “Não observamos nenhum aumento na resistência vascular”, afirma Beall. Os tibetanos também parecem ter níveis mais altos de antioxidantes em seu organismo, talvez para ajudar a reduzir o risco de colocar tanto óxido nítrico – um radical livre – em sua corrente sanguínea.

Os tibetanos também respiram bastante, inspirando o ar mais vezes por minuto que os habitantes de terras mais baixas e até mesmo que outros moradores de regiões altas – como os Andes na América do Sul, que possuem pulmões maiores que a média. Além disso, quando os tibetanos receberam oxigênio puro, seu ritmo cardíaco diminuiu em 16%. No entanto, os cientistas dizem que sua capacidade de produzir níveis mais altos de óxido nítrico é fundamental para que consigam viver sem problemas nos picos mais altos do mundo.

Seria essa capacidade uma evidência de adaptação funcional evolucionária em humanos? “Teríamos que identificar o gene e as variantes gênicas que são diferentes”, ressalta Beall, “Mas parece uma hipótese razoável no momento”.

Os tibetanos vivem nesse platô há cerca de 20 mil anos e, além de conquistar o Monte Everest – assim como outras montanhas que ostentam os picos mais altos do mundo – regularmente, ainda conseguiram estabelecer e sustentar grandes sociedades sob condições desafiadoras. O segredo do sucesso pode estar codificado em seus genes. “Trata-se de um exemplo de adaptação à hipoxia de grandes altitudes”, explica Beall, “Os tibetanos sabe que são especiais porque vivem em locais tão altos sem adoecerem”.

 
Como os tibetanos conseguem viver em grandes altitudes? - Scientific American Brasil

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